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Francisco nasceu no ano de 1549 em Montilla, na Andaluzia, Espanha. Seus pais eram de família nobre e rica, católicos fervorosos e virtuosos. Possuía rara sensibilidade musical, tendo por passatempo cantar com os pássaros no jardim de casa. Tinha espírito sereno mas não deixava de chamar a atenção de crianças ou adultos quando brigavam, buscando sempre uma reconciliação.
Assimilou com naturalidade o Catecismo, dedicava-se à oração, era devoto da Santa Missa e se confessa com frequência, o que lhe deu solidez para manter uma adolescência pura e retidão moral.
Cedo foi enviado pelos pais para formação no colégio dos jesuítas da cidade, onde foi modelo de integridade contando com a estima dos colegas, inclusive dos mais levianos, que por respeito à sua aproximação abandonavam as más conversas e com ele partilhavam um ambiente de sadia alegria.
Aos 20 anos entrou para o Convento de São Lourenço dos franciscanos de Montilla, onde fez profissão religiosa em 1570. Desejava ardentemente ser missionário. Aprofundou os estudos no Convento de Santa Maria de Loreto, e foi ordenado sacerdote em 1576, voltando a Montilla três anos depois por causa do falecimento do pai. Aí estando, curou milagrosamente alguns doentes, e começaram a aclamá-lo como santo: mas durante a vida inteira lutou para que não atribuíssem a ele os louvores devidos somente a Deus.
Durante um surto de peste que surgiu na Espanha, voluntariou-se como enfermeiro para cuidar dos doentes, em especial dos mais pobres. Contraiu também ele a doença, mas recuperando-se voltou a servir os enfermos.
Em 1589 realizou seu sonho missionário ao ser indicado para a evangelização na América Latina, embarcando para o Peru. Uma forte tempestade no caminho encalhou o navio num banco de areia em situação crítica, mas por sua atuação conseguiu acalmar os viajantes, inclusive batizando muitos passageiros e também os escravos negros que estavam a bordo. De acordo com suas previsões, logo surgiu um outro navio que os levou com segurança ao destino.
Durante seus 15 anos de incansável apostolado, realizou muitos prodígios. Tinha uma capacidade milagrosa para aprender as novas línguas e a cada tribo catequizava em seu próprio dialeto, conquistando os índios de maneira simples e tranquila. Nos povoados de Socotonio e Magdalena, aprendeu em menos de quinze dias o complicado dialeto tonocoté, passando a falar melhor que muitos nativos. Recebeu também o dom dos Apóstolos no dia de Pentecostes: em algumas de suas pregações, espanhóis e índios de diferentes dialetos o entendiam na sua própria língua. Seu método de evangelização incluía alternar as pregações com músicas que cantava ou tocava ao violino.
Mesmo com grande risco, buscava os indígenas dentro das matas, percorrendo um total de três mil quilômetros entre Lima e Tucumán, na Argentina. Realizava inúmeros milagres por onde passava, tanto para alimentar a Fé deles quanto para auxílio das suas necessidades materiais.
Entre outros, fez brotar nascentes em lugares desérticos, a água de uma delas, conhecida hoje como Fonte de São Francisco Solano, curando os doentes que a bebiam; amansou animais ferozes; proveu alimentos em tempos de escassez; livrou totalmente uma vasta região da praga de gafanhotos; curou muitos doentes com o toque de seu cordão de franciscano. Mas, certamente, seus maiores milagres foram as conversões das almas.
Numa pregação em Assunção, no Paraguai, foi ouvido por um jovem de 15 anos, o futuro São Roque González, que impressionado por ele veio a fundar as Reduções Guaranis e a ser martirizado, no Brasil.
Seus últimos cinco anos de vida, em Lima, foram dedicados à reforma dos conventos com a restauração da então abalada disciplina franciscana. Faleceu em 14 de julho de 1610, apelidado de “o Frade do Violino”.
São Francisco Solano, chamado de Apóstolo do Peru e da Argentina, é padroeiro destes dois países e do Uruguai, e também dos missionários da América Latina.
Reflexão:
Santas famílias geram santos filhos. Os pais devem escolher. E agir. A reta postura sempre impõe respeito, e é de se notar que, em plena adolescência, Francisco fosse respeitado mesmo pelos colegas mais levianos. Importante é incentivar os jovens a se manterem dignos de Deus, em qualquer ambiente, o que por si só é um testemunho coerente com a Fé, inibindo abusos e estimulando a firmeza das boas convicções. Em sentido oposto, é preciso lutar, com muita sinceridade, contra a instigante tentação de ser muito valorizado, mesmo por fazer o bem: mais uma vez Francisco dá o exemplo certo, mantendo que as coisas extraordinárias que fazia eram obra de Deus, não de seus próprios poderes. “Quem se gloria, glorie-se no Senhor. Não é homem de valor quem se recomenda a si mesmo, mas aquele a quem o Senhor recomenda” (2Cr 10,7-8). E muitas coisas espantosas ele fez, particularmente como missionário, mas não só pelos muitos milagres, mas também pela dedicação, persistência e disposição de enfrentar graves perigos e distâncias imensas. Isto numa época onde as possibilidades de conforto e a disponibilidade do necessário eram parcas e inversamente proporcionais aos desafios e as agruras do terreno. Independentemente de milagres, o trivial era de exigência heróica. O trabalhar um grande projeto é provado por grandes oposições. Querendo ser missionário, numa dimensão continental e árdua, Francisco tem como primeira experiência uma tempestade e um navio perigosamente encalhado. E a expectativa de impossibilidade de sequer iniciar o trabalho. No plano espiritual, situações semelhantes são ainda mais exigentes: fortes temporais na alma, onde todo tipo de barreiras parece encalhar os bons propósitos e os maiores esforços, impedir qualquer progresso. E pelas oscilações do espírito ameça naufragar no mar das agitações, desânimos ou desesperos, todo o conteúdo do que fôra tão cuidadosa e penosamente preparado. São provas de Deus, por vezes com um adendo do diabo… mas, como Francisco, é possível transformar a situação numa vitória, com oração, trabalho, tranquilidade e confiança em Deus. Esta é a têmpera dos santos, santidade que é proposta a todos os batizados. Nem sempre o sucesso terá a aparência que o mundo espera – apenas Nossa Senhora entendeu o Cristo na Cruz e no sepulcro – mas não é a míope visão mundana que importa. Estas situações fazem parte da vida de quem quer que se lance a levar Deus ao mar do mundo, navegando na barca da Igreja, e exigem “milagres”: fazer brotar fontes de esperança em corações secos, amansar os ferozes animais das tentações, prover o alimento da Palavra em tempos de escassez moral, livrar totalmente da praga do desespero e do desânimo a imensa região dos corações, restaurar a disciplina espiritual das almas distorcidas. E talvez o mais difícil, fazer com que o único Verbo seja conjugado em línguas diferentes. Mais uma vez, Francisco nos mostra que tudo isso é viável: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Seja feita a Sua vontade!
Oração:
Senhor Deus, que Vos dignastes enviar como missionário salvífico do Céu para a Terra o Vosso próprio Filho, concedei-nos por intercessão de São Francisco Solano o dom de aprender a língua do amor e da caridade, e só por ela me dirigir aos irmãos, para que, depois das obras no desterro desta terra, possamos entoar na Pátria Definitiva a música dos anjos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
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