Busque por:
Júlio César Russo nasceu em 1559 na cidade de Brindisi, Itália, recebendo dos fervorosos pais ótimas raízes religiosas. Já na primeira infância demonstrava piedade incomum, possuindo também inteligência acima da média.
Por isso, a admiração dos franciscanos, mesmo os mais observantes, do convento de São Paulo Eremita em Brindisi, para onde foi encaminhado aos quatro anos para receber sólida formação, diante da sua seriedade, compenetração e brilhantismo nos estudos.
Com apenas seis anos, memorizava e declamava várias páginas de textos, iniciando o estudo da Bíblia. Também repetida com exatidão, desembaraço e espírito os sermões ouvidos, e por tal motivo frequentemente os frades o chamavam para pregar nos Capítulos do convento. Por sua fama, quis ouvi-lo o Arcebispo Dom Francisco Alcander, disfarçando-se entre os fiéis para deixá-lo à vontade.
Ao final da prédica, encantado com a sabedoria e desenvoltura do menino, abençoou-o e lhe concedeu ampla licença para pregar em toda a diocese, especialmente no púlpito da catedral, para isso convocando o povo pelo toque dos sinos.
Aos oito anos entrou para a escola dos meninos oblatos, espécie de pequeno seminário dos frades franciscanos, pouco depois da morte do pai. Ali também os seus dons o destacavam, mas seus sábios formadores não o enalteciam publicamente, para evitar-lhe a vaidade. Aprendeu as ciências humanas e a divina, incluindo a humildade, saindo naturalmente de uma pregação para fazer serviços como varrer o pátio e esfregar o assoalho.
Com o falecimento da mãe teve que se mudar para Veneza com 14 anos, aos cuidados de um tio virtuoso, Pedro Rossi, que dirigia uma escola particular preparatória à Universidade de São Marcos, e o incentivou para uma vida de santificação. Júlio decidiu-se a entrar no convento dos freis capuchinhos, e para já se exercitar neste tipo de vida consagrada e austera intensificou a vida de piedade e penitência.
Jejuava três vezes por semana, dormia pouco e sobre tábuas, usava cilício e disciplinava-se frequentemente. Foi admitido como noviço em Verona, um período que lhe trouxe provações espirituais e físicas, com várias doenças, mas sofria com serenidade por amor a Deus e a Nossa Senhora, a Quem fizera sua consagração.
Estudou profundamente Latim, Hebraico, Grego, História, Filosofia e Teologia, e chegou a memorizar toda a Bíblia. Foi encarregado de pregar antes mesmo da sua ordenação sacerdotal, conseguindo muitas conversões tanto antes quanto depois. Estudou Filosofia na Universidade de Pádua para receber com 23 anos a ordem presbiteral, que ocorreu em 1582.
Em 1586 foi para Veneza como mestre dos noviços da Ordem; em 1587, foi eleito Guardião (Superior do Convento) de Bassano del Grappa; em 1590, Vigário, ou Guardião, Provincial da Toscana e depois de Veneza; em 1596, Definidor, ou Vigário, Geral da Ordem (um dos mais elevados cargos); e como Provincial da Suíça visitou as províncias transalpinas da mesma.
Nesta função, viajou a pé, por vezes mais de 40 quilômetros por dia, sob sol, chuva ou neve, durante um ano, na França, Holanda e Espanha. Zelou então energicamente pela austeridade tradicional da Ordem, especialmente na questão da pobreza. No Império Austro-Húngaro, enfrentou o fraco imperador Rodolfo e seus auxiliares protestantes, que pretendiam expulsar os missionários franciscanos de lá, conseguindo fundar três conventos, em Praga, Viena e Gratz.
Como Capelão das tropas imperiais e conselheiro do chefe do exército romano, Filipe Emanuel de Lorena, na guerra contra a invasão dos turcos muçulmanos, levava apenas uma cruz de madeira com várias relíquias incrustadas, animando a todos e pregando, e realizando milagres (com testemunhos oculares), como fazer voltar as balas inimigas contra eles próprios, fazendo o Sinal da Cruz.
Como embaixador do Papa Paulo V intermediou a paz entre vários governantes católicos, evitando guerras fratricidas, e por isso recebeu do Sumo Pontífice em 1606 permissão oficial para pregar em qualquer lugar sem necessidade da autorização dos bispos locais. E de fato convertia multidões, como em Nápoles, Mântua, Gênova, Pádua, Verona, Milão, etc.; por falar perfeitamente Hebreu, converteu também muitos judeus de Roma.
Lourenço foi fundamental na formação de uma Liga Católica, obtendo a adesão de vários governantes católicos, para combater a Liga Protestante. Polemizando com os hereges, escreveu um manual extraordinariamente bem feito, a partir dos textos originais gregos e hebreus da Bíblia, em confronto com as obras de Lutero, demolindo suas ideias.
Suas atividades eram muito frequentemente acompanhadas de milagres: curas de cegos, paralíticos, surdos, esterilidade. Até lenços tocados por ele tinham poder de curar. Constam 97 milagres em vida no seu processo de canonização.
Suas duas maiores devoções eram: Nossa Senhora, de Quem afirmava: “...aquele que se confia a Maria, que se entrega a Maria, não será jamais abandonado, nem neste mundo nem no outro”, e para Quem escreveu um livro, Mariale, do qual se disse ser o melhor e mais completo sobre a Virgem; e a Sagrada Eucaristia, “o centro não somente de sua vida espiritual, mas de toda sua existência”.
Frequentemente entrava em Êxtase na celebração da Missa, e em qualquer lugar que fosse garantia que pudesse celebrá-la. Mesmo nos seus últimos anos, sofrendo muito com a gota, fazia questão de celebrar, e durante este tempo conseguia ficar de pé. Terminando, voltavam as dores e era preciso ser carregado de volta ao leito.
Faleceu em 21 de julho de 1619, data do seu aniversário de 60 anos, após um ataque agudo de gota e febre, quando estava em missão na cidade de Lisboa, Portugal.
Sua obra é gigantesca: pregador, administrador, diplomata, cruzado, apologista, taumaturgo, escritor, arauto de paz entre os governantes católicos e paladino contra os hereges e muçulmanos, bem querido por regentes eclesiásticos e civis, foi venerado ainda em vida como santo.
Depois da morte, passou a ser chamado de Lourenço de Brindisi para não causar confusão com São Lourenço mártir. Foi proclamado Doutor da Igreja.
Reflexão:
As realizações de São Lourenço de Brindisi são tão imensas quanto o seu coração. Recebeu dons excepcionais, mas os complementou literalmente ao longo de toda a vida através da ascética, do estudo e principalmente pelo entrelaçamento entre humildade e as duas devoções mais típicas dos santos (recomendadas com ênfase da Igreja para todos), à Nossa Senhora e à Eucaristia. Com este amplo e sólido suporte, pôde se destacar na pregação, nos escritos, nas batalhas – espirituais, contra as heresias por exemplo, e em campo, armado de Deus. Entre as inúmeras graças que lhe foram concedidas, está a de ter tido santos mestres. O cuidado que tiveram em lhe prevenir desde cedo a vaidade, não exagerando nos elogios a uma criança, ainda que genial, é uma prova. E é exatamente pelo orgulho que o diabo mais facilmente corrompe, com especial facilidade a quem é concedida destacada inteligência. Para São Lourenço, ainda outra forte via de tentação para a soberba poderia ter sido o reconhecimento do povo em geral, pois era comumente recebido nas diversas localidades por multidões entusiasmadas. Este entusiasmo é sem dúvida bom como reconhecimento da santidade de alguém, mas sempre perigoso. Ainda pior quando as aclamações são por atividades mundanas, que o digam as figuras públicas, os governantes, os artistas, os desportistas, etc., que sem a santidade de Lourenço muitas vezes agem com a pretensão de deuses. Os ídolos são adorados por idólatras… sobre o que seria espiritualmente salutar (ideal, não resistindo ao jogo de palavras) que as massas de “fãs” (fanáticos…) procurassem meditar. São Lourenço combateu o bom combate na época do Renascimento, movimento pagão. Hoje devemos nos movimentar para combater o renascimento do paganismo. Os pagãos adoravam ídolos como os deuses mitológicos, por exemplo, mas atualmente estes deuses são mais conceituais, ideológicos, e portanto mais sutis e perigosos. Rezemos ao Senhor, sempre providente, que suscite por toda a parte santos como Lourenço, humildemente preparados para vencer o combate espirital e em campo, munidos da Eucaristia e nas legiões de Nossa Senhora.
Oração:
Senhor Deus, cujas obras maravilhosas se manifestam na grandeza dos Vossos santos, e em todas as épocas protege os Vossos filhos, concedei-nos pela intercessão de São Lourenço de Brindisi a graça da sua mesma humildade, sem a qual não poderemos limpar o assoalho imundo das nossas almas, pisadas pelo pecado, nem pacificar as disputas fratricidas das ambiciosas paixões no coração; e igualmente a memória viva de Vós, para podermos recitar na vida prática as virtudes, e na vida celeste o Glória em Vossa honra. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Amém.
Boleto
Reportar erro!
Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página: