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Clarisse era a segunda de três irmãs da família Marescotti, pertencente à nobreza italiana. Nasceu em 1585 em Vignanello, província de Viterbo próximo a Roma. Recebeu requintada educação e boa formação cristã, que a princípio valorizou. Mas, crescendo, agradou-se das vaidades do mundo. E, embora posta para ser educada no mesmo convento de religiosas onde sua irmã mais velha (que levou uma vida santa) já estava, não demonstrava desejo de ser religiosa, entretendo-se apenas com futilidades.
Voltou para casa e, bonita, culta, independente, levava uma vida cheia de luxo e vaidades, frequentando as diversões e festas da alta sociedade. Desejava se casar, e interessou-se pelo jovem marquês de Capizucchi. Este, porém, veio a desposar sua irmã mais nova, o que lhe causou grande decepção, despeito e inveja. E também revolta contra o pai (na época, os casamentos muitas vezes eram decididos pelas famílias), numa atitude altiva e insolente, aborrecendo-o com intratáveis caprichos.
O pai a intimou a fazer-se religiosa, ao que ela afinal acedeu, tornando-se Terciária franciscana (para não ficar enclausurada), no Mosteiro de São Bernardino em Viterbo, onde recebeu o nome de Jacinta. Mas os seus gostos e caráter não mudaram com o seu estado, mesmo dentro do convento vivia em vaidade. Manteve o voto de castidade, porém desprezou os de obediência e pobreza: mandou construir um quarto particular, que mobiliou com luxo e decorou com suntuosidade, onde muitos amigos iam visitá-la; usava roupas de seda e era servida por duas noviças. Quanto aos deveres que a regra lhe impunha, somente os cumpria com negligência e por simples obrigação.
Os defeitos, contudo, não haviam obscurecido totalmente algumas qualidades. Tinha um amor particular à pureza, um profundo respeito aos mistérios da religião e uma grande submissão à vontade dos pais, o que aliás a levou ao convento. Manifestações, certamente, da boa educação espiritual recebida na infância e abafadas, mas não mortas, na alma.
Jacinta viveu assim, escandalosamente, por muitos anos. Mas Deus dispôs as condições que a poderiam levar de volta ao bom caminho. O assassinato do pai, que a fez questionar a segurança proporcionada pela nobreza e pela riqueza, e depois uma grave doença, levaram Jacinta a mudar de vida.
O perigo da morte a fez querer confessar-se, mas o sacerdote, chocado com o luxo absurdo e inoportuno do seu quarto, recusou-se a nele entrar para atendê-la, e a repreendeu severamente. Assustada, impressionada e sinceramente arrependida, ela então fez entre lágrimas uma confissão geral da sua vida. Pediu humilde e heroicamente perdão às irmãs de comunidade, recebendo delas a promessa de orações e ajuda para perseverar na conversão. O que foi realmente necessário, pois não tão rapidamente a conseguiu. Ficou curada quase milagrosamente, e afinal, pela graça e pelos remorsos da consciência, tornou-se exemplo heroico de mortificação, pobreza e doação ao próximo, até a morte.
No convento, esteve atenta ao bem que também podia fazer fora. Durante uma epidemia que devastou Viterbo, fundou e dirigiu duas associações, os “Oblatos de Maria”, com a ajuda financeira de velhos amigos: uma recolhia esmolas para os convalescentes, os mendigos e os presos; e na outra os “Sacconi” (assim eram chamados por usarem sacos de estopa durante o serviço), enfermeiros, ajudavam os doentes num hospital especialmente construído. As duas associações ainda existem em Viterbo. Tudo o que Jacinta recebia, oferecia aos pobres. Seu exemplo levou muitos a retornarem à fé, da qual tinham se distanciado.
Faleceu em 30 de janeiro de 1640 em Viterbo, com 55 anos, de um mal agudo e violento que em algumas horas a levou para o Céu.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
O que mais chama a atenção na vida de Santa Jacinta Marescotti é, naturalmente, a sua radical mudança de vida, da futilidade vazia à heroica caridade. Caminho difícil, sempre, mas deve-se lembrar que não é preciso esperar por situações trágicas que nos motivem a sermos santos, ainda que muitas vezes as tragédias sejam, talvez, um misericordioso último recurso de Deus para salvar uma alma, como aconteceu com ela. É preciso atenção para que a juventude, a beleza, as posses, a nobreza, enfim, boas coisas, não acabem se tornando ruins por nos afastarem de Deus, se as buscamos antes do que a Ele. Porém há um aspecto mais sutil da vida de Santa Jacinta, que deve também nos chamar a atenção. É o valor da fervorosa educação religiosa das crianças, que planta insuspeitas sementes, propícias a florescer mesmo muito depois e em circunstâncias adversas. Não fosse por estas boas raízes, talvez Jacinta nem entrasse no convento, correndo ainda maior risco na vida leviana do mundo, até e também na sua castidade. Mas foi com este pouco, esta “recordação espiritual”, que Deus trabalhou a sua alma, até a salvação. Não negligenciem os pais católicos de educar bem os filhos na Fé, pelo exemplo e pela palavra, pois não só esta vida depende deste cuidado, que é também obrigação.
Oração:
Senhor Deus e nosso Pai, que sempre nos quer educar na Verdade, concedei-nos por intercessão de Santa Jacinta Marescotti a permanente coragem do arrependimento e conversão sinceras, a graça de resistir aos apelos do mundo, e a humildade de cumprirmos fielmente todas as nossas tarefas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo e Maria, Vossa Mãe, que em tudo foram obedientes a Vós. Amém.
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