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Marciana era jovem, bela e piedosa, e cedo decidiu consagrar sua virgindade a Deus e morar como eremita na pequena cidade de Rouzucourt (agora Tigzirt), aproximadamente a 129 km de Cesareia de Mauritânia do final do século III, onde residia sua família, na atual Argélia. O norte da África era neste tempo dominada pelo Império Romano e totalmente latinizada, regendo Dioclesiano, feroz perseguidor da Igreja e responsável pelo martírio de cerca de 15.000 cristãos ao longo do seu governo (284 a 305).
Vivendo numa cela, isolada, Marciana não tinha contato habitual com ninguém. Supõe-se por este motivo que a sua decisão de sair dali para ir a Cesareia foi inspiração divina, no empenho de combater o paganismo. Encontrando numa praça pública uma imagem em mármore da deusa Diana, junto a uma fonte, e não podendo suportar a visão de tão impura idolatria, Marciana não apenas a derrubou, mas acintosamente a quebrou em inúmeros pedaços. Ora, do ponto de vista dos pagãos, obrigados a adorar os ídolos, este gesto era gravíssimo delito, pois acreditavam que a estátua era o próprio deus (ao contrário, no Catolicismo, sabemos que uma imagem de algum santo, ou qualquer representação de Deus, embora sejam veneráveis, e que é sacrilégio quebrá-las por ser ofensa ao sagrado, não são em si mesmas aquilo que aparentam). Uma multidão em fúria a agarrou e maltratou, levando-a em seguida diante do juiz no pretório.
Ali ela fez uma corajosa e eloquente apologia do verdadeiro Deus cristão, rindo-se dos deuses de pedra e madeira. Irritado, o juiz entregou-a aos gladiadores, para que dela abusassem. Marciana, tranquila, rezava, e por três horas, aterrorizados e imóveis, aqueles brutos lutadores nada puderam fazer, pois Deus os impedia. Um deles converteu-se à fé católica, confirmando o caráter sobrenatural do episódio.
Furioso, o juiz a condenou à morte por animais ferozes na arena. Marciana caminhou para o suplício alegre e bendizendo a Jesus. Um leão foi solto e avançou para onde ela estava amarrada, apoiando nela as patas, mas em seguida a deixou e não mais a tocou. O povo, então, muito impressionado, pediu aos gritos que a libertassem, mas um grupo de judeus misturado à multidão insistiu para que um touro selvagem fosse solto contra ela, o que de fato ocorreu. Os chifres do animal a feriram horrivelmente, e ela desmaiou. Conta-se que em seguida um incêndio tomou a sinagoga local, que jamais pôde ser reparada.
Marciana foi retirada da arena e, como ainda vivesse, estacaram-lhe a hemorragia e novamente a amarraram para que continuasse o suplício. Olhando para o céu, ela disse: “Ó Cristo, eu Vos adoro! Vós estivestes comigo na prisão, Vós me guardastes pura, e agora Vós me chamais. Ó meu Divino Mestre, vou feliz para Vós! Recebei a minha alma!”. Um leopardo a dilacerou, matando-a. Era o dia 9 de janeiro de 304.
Santa Marciana é invocada na cura de feridas.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
Não suportar os ídolos deste mundo deve nos levar a não apenas nos recolhermos em Deus, mas também a claramente demonstrar a nossa Fé combatendo os erros mundanos, para poder chegar ao Paraíso. Este combate deve chegar com clareza “à cidade”, ao centro da nossa civilização. Derrubar os deuses deste mundo é de fato uma guerra, e Diana, a deusa pagã da caça, persegue os filhos de Deus. Mas é da e na própria realidade humana que o Senhor suscita a redenção: Marciana é um nome latino originado em Martes, deus romano da guerra – daí as chamadas artes marciais, sendo que a mais bela das artes, pode-se dizer, é justamente o combate espiritual; somos chamados por Cristo, e por Ele aparelhados, para enfrentar, na materialidade da condição humana, os erros da alma. A imagem destruída por Marciana estava junto a uma fonte: o pecado tem seu fim próximo às águas do nosso Batismo. O indispensável recolhimento em Deus, na oração, precede a jornada de Santa Mariana, e a nossa, no conflito contra o mal, e sem isto não há vitória possível. Mesmo na ação, a oração tem que estar presente: ela rezava, tranquila, diante dos brutos gladiadores, e também nós temos que serenamente crer e confiar Naquele que está acima dos poderes temporais. A civilização católica é aquela dos que se sabem fracos e aceitam, portanto, as forças sobrenaturais que o Pai oferece, pois o argumento de Cristo é a Sua morte na Cruz. Normalmente, é claro, é necessária a prudência, e mesmo Jesus aconselha a fugir das perseguições (cf. Mt 10, 23; não por mera covardia, mas porque a vida é sim importante em si mesma como dom do Pai, e que a evangelização ocorre também na ida a outros lugares; de toda a forma, a cada um é dada uma missão particular que deve ser bem discernida, seja uma atividade ordinária ou até o martírio). Mas, há momentos em que é preciso não apenas contestar abertamente a mentira, mas também tomar a iniciativa. É comum que Deus suscite a fortaleza a partir dos fracos, para deixar claro que apenas Sua é a verdadeira força, e que os impérios deste mundo nada são diante do Seu poder.
Oração:
Deus Todo-Poderoso, que Vos comprazeis em exaltar a Vossa fortaleza a partir das nossas misérias, elevando-nos assim para Vós e nos reconciliando Convosco, concedei-nos pela intercessão de Santa Marciana viver o bom combate nesta vida, sem temor ao que é ímpio, e testemunhando com firmeza, para o nosso bem e o dos irmãos, em qualquer circunstância a que nos chameis, a Verdade que já manifestastes nesta terra e que será o prêmio de alegria infinita na nossa casa definitiva. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
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